21 de novembro de 2024

Pelas mãos da Diocese, Paulo Afonso entra na rota do Enoturismo

Já é realidade palpável e visível o Vinhedo Laudato Si, primeiro de Paulo Afonso e promissor no que se refere à notória potencialidade do empreendimento, que traz como núcleo desta expansiva célula o imensurável projeto social, idealizado pela Diocese Nossa Senhora de Fátima, na pessoa de Dom Guido Zendron, bispo diocesano, denominado Recanto Solidário, espaço que faz parte do complexo da FUNDAME, que hoje acolhe cerca de 15 homens em situação de dependência química e do álcool, que estão em processo de recuperação e ressocialização.

 

Em evento realizado no último dia 14, no espaço aberto do Recanto Solidário, empresários, comerciantes, representantes de instituições sociais, de grupos e movimentos da igreja, de entidades governamentais e da sociedade civil, estiveram pressentes para verem de perto os primeiros frutos do vinhedo, onde tiveram oportunidade de levarem para casa uvas francesas do tipo Chardonnay, vendidas ali mesmo, in natura.

A coordenadora do Recanto Solidário, Júlia Varjão, apresentou ao público sobre o projeto e toda a convivência interna, as dificuldades para mantê-lo e a importância dos diversos voluntários que ajudam em vários momentos. Dom Guido falou sobre como tudo começou, desde sua busca por alguém que se interessasse em tocar o projeto do vinhedo (já que ele conhece bem do potencial que é, pois ele é natural de uma região que cultiva uvas na Itália), até o encontro com aquele que faria com que tudo se tornasse realidade, o sommelier Figueiredo.

Um documentário feito desde o início dos trabalhos no campo até a primeira colheita, ocorrida no dia 13/01, foi apresentado ao público, o qual emocionou a todos. Logo após, foi a vez de José Figueiredo apresentar o vinhedo com seus tipos de uvas, o impacto econômico, as perspectivas etc.

Ao final, o novo Presidente da Fundame, Roberto Costa, falou da importância do projeto para as obras sociais, vislumbrando a capacidade de serem acolhidas novas pessoas que se encontram em situação de vulnerabilidade social, com ao Fundame vem fazendo ao longo dos anos.

 

Na foto da esquerda para direita (Júlia Varjão, Dom Guido, José Figueiredo e Roberto Costa)
Fotos: Jardel Menezes

O evento foi animado por músicas tocadas por integrantes da banda da Fundame, sob a regência do maestro Genivaldo (voluntário do projeto) e das irmãs da Comunidade Servos de Maria do Coração de Jesus.

Com este projeto, que teve início ainda em meados de 2020, com a retirada de pedras e preparação do solo, Dom Guido procurou introduzir uma consciência de que, a partir de uma iniciativa como esta, é Deus quem nos impulsiona a vivermos a verdadeira fraternidade, que não se resume somente em abraços e encontros, mas no transcender de nós à vida do outro, permitir que o outro (nosso irmão) também se realize a partir de uma experiência comunitária, sólida e regada de amor.

 

O Vinhedo

Ele traz o nome “Laudato Si”, que é uma expressão (originado de um dialeto úmbrio do italiano antigo) que quer dizer “Louvado Sejas”, fazendo menção ao Cântico de São Francisco de Assis, que em sua extasiante contemplação da grandeza de Deus, o louva por todas as criaturas e seres viventes, pois toda a natureza é obra das mãos do Senhor. A expressão também ganhou maior popularidade após a publicação da Encíclica Laudato Si, do Papa Francisco, no ano de 2015, que contempla dentre outros aspectos da vida, a relação do ser humano com a natureza, ele diz que, o ser humano não está dissociado da terra ou da natureza, eles são partes de um mesmo todo, nisso consiste a consciência do zelo pela “casa comum”, o mundo deve ser zelado, cuidado, amado, é a nossa casa.

A partir daí, cria-se uma perspectiva de possibilidades reais de uvas brotando em um lugar ainda visto com desconfiança por alguns especialistas no assunto, mas acreditado, sobretudo, por outro grande conhecedor, o Sommelier e Vitivinicultor José Figueiredo, um Catarinense produtor de uvas e dos vinhos da marca VSB (Vinun Sancti Benedictus), na cidade de Curaça-BA, que compartilhou suas experiências com Dom Guido e se encantou com a potencialidade da terra e a propicialidade do local onde seriam plantadas as mudas, além do clima perfeito (segundo palavras do Figueiredo) para o desenvolvimento das plantas e, consequentemente, dos frutos.

O vinhedo já conta com uma área de 2,5 hectares plantados, com quase 7.000 pés de uvas renomadas no mercado nacional e internacional, responsáveis pelos melhores vinhos do mundo. Entre as variedades plantadas, estão a Malbec, Tannat, Syrah e Chardonnay (estas brancas).

 

Fotos: Jardel Menezes

 

Os primeiros Vinhos

A grande expectativa para os próximos meses, é a colheita das uvas tintas, das primeiras plantas (aproximadamente 1.500 pés) que darão origem aos primeiros vinhos Laudato Si, e que trarão um requinte inigualável no sabor, conforme nos garante o próprio Figueiredo.

Como a vinícola ainda não está pronta, com os tanques de processamento e armazenamento devidamente instalados no local, não haverá uma produção pretendida, já que este processamento e envasamento do vinho ocorrerá fora de Paulo Afonso; sendo assim, a quantidade de uvas teve de ser limitada, por isso, algumas uvas (do tipo Chardonnay) foram colocadas à disposição do público local para aquisição, pelo menos 100 quilos dela, tendo sobrado algumas embalagens, ainda possíveis de serem adquiridas diretamente no Recanto Solidário.

 

Fotos: Jardel Menezes

 

Desenvolvimento Econômico e Social para a cidade

A iniciativa, sem dúvida alguma, porá Paulo Afonso num patamar de cidades potencialmente turísticas, o que representa aumento na economia local, já que o Enoturismo tem crescido consideravelmente nas regiões de vinícolas. De acordo com a Uvibra (União Brasileira de Vitivinicultura), antes dos impactos da pandemia de coronavírus, o número de “enoturistas” vinha crescendo de 10% a 15% ao ano. Apenas a cidade de Bento Gonçalves (RS) recebeu mais de 1,5 milhão de turistas em 2019, sendo 500 mil somente no Vale dos Vinhedos. A expectativa é que em 2021 o setor possa retomar a mesma performance.

Além do Enoturismo, poderemos contar com Turismo Religioso, já que o pano de fundo de todo este projeto, são as diversas obras sociais mantidas pela diocese, com a ajuda de tantas pessoas, que serão beneficiadas diretamente pelos resultados lucrativos do vinhedo. O local já tem projeto para construção de uma capela dedicada a Santa Dulce dos Pobres e o Memorial do Vinho, além de já existir a casa que abriga os homens em recuperação (já em ampliação).

Paulo Afonso será, portanto, rota para os apreciadores de vinhos e para todos que desejem conhecer de perto as obras sociais mantidas pela diocese, que prontamente pode culminar na visitação do turista às igrejas da cidade.

Este projeto contou com recursos captados através de entidades não governamentais da Europa, ligadas à Igreja Católica, mediante projeto escrito, além de apoios operacionais da prefeitura local, Ong’s e do trabalho voluntário (em sua maioria) dos internos do Recanto, membros de comunidades católicas e da sociedade civil em geral.

 

 

Por: Paulo Roberto (Paulinho) – Assessor Técnico da Diocese e Voluntário no Projeto

 

 

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