4 de dezembro de 2024

Igreja no Brasil celebra a canonização de Santa Dulce dos Pobres, o anjo bom da Bahia

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Aos 13 anos, Maria Rita de Souza Brito Lopes transformou a casa dos pais, o dentista Augusto Lopes Pontes e Dulce Maria de Souza Brito Lopes Pontes, num lar de acolhida e atendimento a mendigos e doentes. Situada à rua da Independência, 61, no bairro Nazaré, de Salvador-BA, a casa ficou conhecida como ‘A Portaria de São Francisco’, tal o número de carentes que se aglomeravam a sua porta. O gesto é o embrião de uma vida virtuosa, desde cedo inclinada à santidade.

Irmã Dulce à direita de seu pai. Fotos: Divulgação Obras Sociais Irmã Dulce.

Trata-se de um entre tantos fatos na biografia de Irmã Dulce, conhecida como o Anjo Bom da Bahia, que no dia 13 de outubro, às 10h (horário do Vaticano) em celebração presidida pelo Papa Francisco, no Vaticano, será elevada aos altares na condição de Santa Dulce dos Pobres. O anúncio de sua canonização aconteceu dia 1º de julho, quando o Papa presidiu, na Sala Clementina, no Vaticano, o Consistório Ordinário Público para a Canonização da Bem-Aventurada e de outros quatro beatos.

Para o arcebispo de Belo Horizonte (MG) e presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), a canonização da Irmã Dulce é um grande presente para toda a Igreja no Brasil, de modo especial para a Igreja na Bahia, mas também para toda sociedade. Dom Walmor destaca o caráter exemplar de sua biografia. “Ela é exemplar na fé incondicional em Deus e exemplar no desdobramento autêntico de sua fé que se traduz no cuidado com os mais pobres. Por isto é elevada à glória dos altares”, disse.

Segunda filha, ao nascer em 26 de maio de 1914, em Salvador, Irmã Dulce recebeu o nome

Irmã Dulce à direita de seu pai. Fotos: Divulgação Obras Sociais Irmã Dulce

de Maria Rita de Souza Brito Lopes Pontes. A menina Maria Rita foi uma criança cheia de alegria, adorava brincar de boneca, empinar arraia e tinha especial predileção pelo futebol – era torcedora do Esporte Clube Ypiranga, time formado pela classe trabalhadora e os excluídos sociais.

A vocação para trabalhar em benefício da população carente teve a influência direta da família, uma herança do pai que ela levou adiante, com o apoio decisivo da irmã, Dulcinha. Além da inclinação para doar-se ao serviço solidário, na adolescência também manifestou, pela primeira vez, após visitar com uma tia em áreas onde habitavam pessoas pobres, o desejo de se dedicar à vida religiosa.

Em 8 de fevereiro de 1933, logo após a sua formatura como professora, Maria Rita entrou para a Congregação das Irmãs Missionárias da Imaculada Conceição da Mãe de Deus, na cidade de São Cristóvão, em Sergipe. Em 13 de agosto de 1933, recebe o hábito de freira das Irmãs Missionárias e adota, em homenagem a sua mãe, o nome de Irmã Dulce.

A primeira missão de Irmã Dulce como freira foi ensinar em um colégio mantido pela sua congregação, no bairro da Massaranduba, na Cidade Baixa, em Salvador. Mas, o seu pensamento estava voltado mesmo para o trabalho com os pobres. Já em 1935, dava assistência à comunidade pobre de Alagados, conjunto de palafitas que se consolidara na parte interna do bairro de Itapagipe.

Nessa mesma época, começa a atender também os operários que eram numerosos naquele bairro, criando um posto médico e fundando, em 1936, a União Operária São Francisco – primeira organização operária católica do estado, que depois deu origem ao Círculo Operário da Bahia.

Em 1937, funda, juntamente com Frei Hildebrando Kruthaup, o Círculo Operário da Bahia, mantido com a arrecadação de três cinemas que ambos haviam construído através de doações – o Cine Roma, o Cine Plataforma e o Cine São Caetano. Em maio de 1939, Irmã Dulce inaugura o Colégio Santo Antônio, escola pública voltada para operários e filhos de operários, no bairro da Massaranduba.

Quando faleceu, em 13 de março de 1992, Irmã Dulce deixou um legado não apenas de fé, mas um conjunto de obras de caridade e socioassistenciais que ergueu graças a seu incansável trabalho de doação aos maios pobres.

No Brasil, por conta da diferença de fuso horário, a celebração de canonização será às 5h da manhã. A celebração será exibida por tvs de inspiração católicas (TV Horizonte, TV Imaculada, Canção Nova, Rede Vida, TV Evangelizar, Rede Século 21 e TV Pai Eterno).

Celebração no Brasil

A primeira missa, em solo brasileiro, em homenagem à Irmã Dulce, pós-canonização, já tem um cenário certo. Será no Arena Fonte Nova, em Salvador (BA), no dia 20 de outubro, às 16h. Cerca de 500 crianças do Centro Educacional Santo Antônio apresentarão um musical que conta a história dos 60 anos das Obras Sociais da religiosa.

Para arcebispo de Salvador(BA) e primaz do Brasil, dom Murilo Krieger, a canonização da Irmã Dulce dará à dimensão da caridade, um dos quatro pilares das Novas Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil, um grande impulso. “Irmã Dulce tem muito a nos ensinar: mais do que nos deixar uma reflexão sobre a importância do amor aos mais necessitados, nos deixou um exemplo concreto, pois foi ao encontro de quem sofre e os socorreu”, disse.

“É uma emoção muito grande de graças, de bênçãos. Ter uma fundadora como santa é uma graça muito grande, são bênçãos de Deus. Eu não a conheci, mas cheguei na congregação no mesmo mês que ela faleceu. Pelos testemunhos e pela história é como se eu tivesse conhecido Irmã Dulce. Eu bebo dessa fonte a cada dia aqui no hospital, é como se eu estivesse caminhando junto com ela. É um momento muito forte, de graça e de alegria”, afirmou a irmã Josinete Maria Costa, da congregação Filhas de Maria Serva dos Pobres, fundada por Irmã Dulce.

O processo de canonização de Irmã Dulce foi o terceiro mais rápido da Igreja Católica. O primeiro foi o do Papa São João Paulo II, que foi canonizado 9 anos após a sua morte; depois, madre Tereza de Calcutá, que foi canonizada 19 anos após a sua morte; e agora Irmã Dulce dos Pobres, que será canonizada após 27 anos de sua morte. Ela será canonizada no ano em que as Obras Sociais Irmã Dulce comemoram 60 anos. O dia litúrgico da Santa Dulce dos Pobres será celebrado em 13 de agosto.

Revista Bote Fé nº 29, Edições CNBB.

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