A Campanha da Fraternidade (CF) este ano 2020 nos traz o tema: “Fraternidade e vida, dom e compromisso”. E lema: “Viu, sentiu compaixão e cuidou dele”. Inspirado no testemunho de Jesus, sobre a parábola do samaritano, nos proporciona o entendimento sobre quem é o nosso próximo e como devemos agir diante de uma ameaça à vida.
Qual o sentido de vida que Jesus nos propõe? Amar ao próximo como a ti mesmo (cf. Mc 12,30-31). No tempo da quaresma e agora da páscoa, estamos vivendo uma pandemia global, que nos aponta uma fragilidade física e espiritual. Devemos ter consciência de que a Palavra de Deus nos alerta sobre como enfrentar as desilusões e incertezas para vivermos em fraternidade. Ter compaixão, transmitir ternura e cuidado como dons gratuitos a todos, acreditar e confiar no bem comum do planeta, devem ser os nossos principais sentimentos e atitudes em tempos difíceis.
A cultura do encontro em tempos difíceis se torna limitante, mas, é através do calor humano, que nos sentimos amados e podemos demonstrar nosso afeto e cuidado. Ter o coração nas mãos é colocar em prática atitudes de bem comum, através do cuidado físico, onde somos capazes de nos doar como um agente de pastoral da vida. Não somente com o ser humano, mas com os animais e com toda natureza.
O exemplo nos vem através da serva santa Dulce dos pobres, que com seu testemunho de amor ao próximo, de fé e obediência a Deus, quebrou barreiras com sua peregrinação e doação de vida em Salvador (BA). Além dos riscos que teve que enfrentar, entregou sua saúde frágil a disposição do serviço e da misericórdia pelos pobres.
Quem vê o sofrimento do seu semelhante é chamado a sentir compaixão, lembrar dos testemunhos e dos ensinamentos dos discípulos e discípulas de Cristo, que nos inspira o amor ao próximo. Qual deverá ser o nosso olhar diante das ameaças que nos rodeiam e nos paralisam?
1. Ver e agir
Fraternidade é uma palavra de origem latina e significa, entre outras coisas irmandade. A passagem do Evangelho que nos conta sobre o “Bom samaritano” é um texto base para compreensão da fraternidade. “Um samaritano que estava viajando perto dele e, ao vê-lo, moveu-se de compaixão” (Lc 10, 33). É necessário lançarmos um olhar compassivo e samaritano que seja capaz de perceber os que necessitam urgente de auxílio.
A Campanha mostra sua importância e atualização, quando reflete sobre os problemas atuais, como: egoísmo, indiferença, desigualdade social, aborto, doenças emocionais (depressão, ansiedade e o estresse entre outras), genocídios, feminicídios, conflitos pela terra e pela água, calúnias e difamações através das Fakes news, a pobreza, e a destruição da natureza.
2. Sentir compaixão
Sentir compaixão e ir mais além, o samaritano não esperou por outro que pudesse socorrer, mas ofereceu o melhor e o conduziu a um lugar seguro. Aproximou-se dele e tratou-lhes as feridas derramando nelas azeite e vinho depois, colocou-o sobre seu próprio animal e o levou a uma hospedaria onde cuidou dele (Lc 10, 34).
Um dos problemas atuais que afligem nossa sociedade é o desafio do sentido. A falta de propósito de vida e a ausência de fé permeiam a vida de quem não se deixa conduzir pelo Cristo. O olhar trinitário de Deus é o olhar que gera vida e amor, contrária a cultura de Caim que não deve nos influenciar, sob o olhar do ódio e da indiferença.
A Igreja necessita de cristãos comprometidos e com iniciativas, que sirvam, assim como Cristo, que lavou os pés dos discípulos e nos deixou esse grande exemplo. Assumir a fé cristã e ir além do que podemos ofertar. E se doar por inteiro.
4.Cuidar
Ainda nos deparamos com crianças e adolescentes em meio a marginalidade, idosos abandonados por seus familiares e seres humanos vivendo sem dignidade, além da falta de renda e de estrutura familiar. “Eu vim para que todos tenham vida e a tenham em abundância” (Jo 10, 10). É o apelo de Jesus que nos convida a praticarmos seu evangelho.
Somente a caridade pode buscar o bem de todas as pessoas e gerar o verdadeiro sentido da vida. Através de cada ação pessoal, gera-se uma ação social. “O importante é fazer a caridade e não falar da caridade”, assim dizia Santa Dulce dos pobres.
Ser fraterno não é apenas reconhecer que somos iguais, mas que precisamos de cuidado contínuo, esforçando-se diariamente a nos reconhecer como um dom divino, assumindo asssim o compromisso cristão de cuidar do próximo.
Conclusão
A falta de compaixão nos leva a uma contaminação generalizada que se enraíza como o pecado. Deixar ser olhado por Cristo é também reavaliar a nossa história de vida cristã. Estamos fazendo a vontade de Deus ou a nossa própria vontade?
Ter compaixão é preciso! Empenhemo-nos com perseverança no cuidado que nos é proposto, com os olhos fixo em Jesus. Ser bom samaritano é deixar cair o orgulho, a prepotência e o egoísmo: é deixar, também, ser cuidado como humilde servo de Deus.
A Igreja nos pede o nosso máximo, porque é também o que desejamos receber. Ora, se nós necessitamos do mesmo, porque não oferecemos ao nosso irmão?
Devemos aprender a amar ou não entenderemos nosso propósito na terra. É urgente a necessidade do amor ao próximo, pois, é isso que nos torna humanos e filhos de Deus
Contudo, pedimos que esta Campanha da Fraternidade não adormeça, mas que gere frutos e seja fonte de aprendizado contínuo e de prática diária através do compromisso com a vida.
Autoria
Maria Vanailma Nascimento Araújo e Antônia Lúcia de Lima Barbosa, catequistas da Paróquia de Santo Antônio, Glória, Ba.
Referências
CONFERÊNCIA NACIONAL DOS BISPOS DO BRASIL.Campanha da Fraternidade 2020:Texto Base. Brasília: Edições CNBB, 2019;
_____ Nova bíblia pastoral. São Paulo: Paulus, 2014.